VAMOS AO ZOOLÓGICO?

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Os zoológicos são instituições que albergam animais de diferentes partes do mundo. Têm sua origem na época das grandes navegações, quando a nobreza colecionava exemplares, satisfazendo sua curiosidade a respeito da biodiversidade e afirmava seu  poder.

Os animais também eram vistos como símbolo de status e um troféu da conquista do Novo Mundo, mas pouco se sabia sobre suas necessidades básicas. Ao serem expostos no cativeiro, eram submetidos a recintos com pouco espaço, geralmente circulares, favorecendo as visualização à qualquer ângulo. Recebiam restos de comida e não havia grandes preocupações com a sua saúde física, muito menos, mental.

para capa do jornal_chamada_por Sávio Bruno
Foto 1: Tigre-branco (Panthera tigris). Variação do tigre-de-bengala, natural da região oriental (sudeste da Ásia e Índia). Quase desapareceram. A maioria vive hoje em zoológicos e alguns parques de vida selvagem. Por Sávio Bruno.

Atualmente, a existência dos zoológicos é justificada, em tese, não somente pela satisfação da curiosidade humana, mas principalmente por sua função educacional e conservacionista. Isto porque a satisfação de nossa curiosidade já não é um motivo que justifique o aprisionamento de animais selvagens. Mas o quê seriam essas “novas” justificativas? Como poderia um zoológico contribuir com questões educacionais e conservacionistas?

 Um zoológico renovado deve aplicar a educação ambiental na sua rotina, pois esta é uma ferramenta essencial para a sensibilização da sociedade para com os animais, uma vez que, em princípio, só amamos e por conseguinte, só protegemos, o que conhecemos. Algumas atividades podem ser incorporadas na instituição (principalmente com as crianças): a presença de um educador em cada setor, explicando a biologia e o comportamento dos animais ali expostos; expôr animais que sofreram alguma injúria por maus tratos causados pelo homem e apresentar seu histórico, o que seria a nosso ver o maior motivo de renovação de sua renovação em si, entre outros desafios de um zoológico.

A função conservacionista se aplica por meio do manejo reprodutivo e planos de ação oficiais, particularmente associados a espécies ameaçadas de extinção, dependendo dos programas que a instituição colabore. Programas que visem a sustentabilidade das populações de cativeiro são, muitas vezes, associados a esforços internacionais, com meticulosa documentação de dados de todos os animais de determinada espécie mantidos em cativeiro, por meio de um studbook, direcionando cruzamentos, evitando consanguinidades, etc. Com isso, se obtém um acervo biológico considerável, que favorece, eventualmente, a reintrodução das espécies nos ambientes naturais.

Os animais em cativeiro motivam também, a realização de pesquisas científicas voltadas ao conhecimento a sua biologia de forma geral.

Porém será que essas funções tem sido, de fato, atendidas? No que se refere a questão educativa, os vistantes realmente aprendem sobre os animais ou apenas os observam e por vezes se sensibilizam com seu sofrimento?

 Devemos lembrar que os animais possuem um sistema nervoso complexo e sentem as mesmas sensações que nós, humanos. Os animais enjaulados são privados da sua liberdade, e consequentemente de exercer boa parte seu comportamento natural, ou seja, liberdade de fazer escolhas simples, como correr (correr mesmo), escalar, caçar, escolher parceiros sexuais, escolher pertencer ou não àquele grupo social,  enfim ter suas próprias experiências de vida. O que desejamos enfatizar é que um animal cativo, não presencia a novidade, o inesperado, e isso deve ser considerado, não é? Fazendo uma relação com nós humanos, não conseguimos nos imaginar sem liberdade, sem ter a oportunidade de fazer o que gostamos, tanto que em nossa sociedade, consideramos uma penitência estar enjaulado. Além de considerarmos insuportável estar em um grupo social ao qual não nos identificamos. Portanto por que deixá-los passar por tantas privações sem que haja uma justificativa plausível?

Diante dos fatos, não justificaria a existência e manutenção de um zoológico sem que este atenda aos menos, os propósitos e justificativas que se propõe.  Perpetuaria, sim, o conceito de “vitrine de animais”, reforçando a visão antropocêntrica enraizada na sociedade: manter um animal longe de seu habitat  e preso exclusivamente para satisfazer a nossa curiosidade, simplesmente isto.

 Então, partiu zoo?

 

Gabriela Lins* e Sávio Freire Bruno**

*Monitora da Disciplina Medicina de Animais Selvagensn – UFF, 2013.

**Professor Dr. med. vet. da Universidade Federal Fluminense

Prof. de Medicina de Animais Selvagens e de Zoologia de Vertebrados.

Setor de Animais Silvestres/Selvagens e Exóticos do Hospital Veterinário da UFF (HUVET – UFF), Avenida Ary Parreiras, 503 – Vital Brazil, Niterói, RJ – Tel. 26299505.

Autor do livro:

PATO-MERGULHÃO – Por Sávio F. Bruno, Niterói: Editora da UFF, 255p. 2013. Informações e envio: daianaangelo@hotmail.com e gabrielalins1@live.com

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